terça-feira, 23 de dezembro de 2014

ENTÃO ELE SAIU DA CAVERNA E FOI AÍ QUE TUDO COMEÇOU...

Este texto é antes de mais nada um depoimento e também é uma narrativa, é o singelo e estranho relato verídico de um garoto que um dia decidiu fazer letras, que tomou hábito pela leitura graças a uma sábia que conhecia todos os mistérios da nobre e perigosa arte de escrever, uma mulher que mais parecia uma fada madrinha, que com sua varinha tocou lá no fundo empoeirado de um coração juvenil que ansiava por libertar-se. E assim começou a jornada empreendida por mim rumo ao reino da sabedoria e da verdade, ali eu me libertei do primeiro grilhão que prendia-me dentro da caverna da ignorância, mas ainda não podia ver claramente o que me aguardava lá fora, estava cego para o conhecimento, e assim aguardei pacientemente no escuro, lia, lia e lia cada vez mais, e me alimentava de cada palavra, de cada letra, e em meio a milhares de dúvidas sobre o futuro, um dia simplesmente segui meu coração e minha loucura (afinal eu queria fazer Letras), e assim como Alice, despenquei num poço que parecia não ter fundo, fui caindo, caindo e caindo e quando achava que não poderia cair mais, choquei-me com um chão fofo e amortecido com gravetos. Foi então que saí das trevas e mergulhei em uma luminosidade cegadora, abri os olhos e eles doíam, vi com dificuldade o conhecimento e demorei a acreditá-lo, estava livre, enfim havia acertado na ousada escolha, entrava na faculdade tão sonhada e tempos depois confirmava a escolha, dessa vez guiado por um novo mestre, que me ensinou todos os caminhos que levam a infinitos lugares, e agora retorno a caverna para mostrar a todos aqueles que ainda não acreditam e estão cegos.




Espero com essa significativa e real história, mostrar a todos aqueles que encontram-se perdidos, que por algum motivo ainda não descobriu o que irá fazer, que ainda não se descobriu, ou que tem medo de que a escolha que faça seja errada, para os que pensam assim eu preciso dizer que a única escolha errada que existe é a de não escolher, a de não tentar, não arriscar, não errar. O que quer que escolham, que seja verdadeiro, único, de coração e se por acaso caírem, apenas lembrem-se que devem levantar-se e começar tudo outra vez, e mesmo que apenas uma pessoa acredite em você já é o suficiente, e é assim que se vence.



   
Dedicado a sora Jack e ao mestre jedi Cido, verdadeiros mentores que libertaram-me e mostraram a flamejante luz do conhecimento, que acompanharam-me e presenciaram meus primeiros passos sozinho, e me deixaram tropeçar e cair algumas vezes para que eu pudesse me levantar de novo e tentar outra vez. 

RESENHA DO FILME HER (2013)

A história de um ser humano que se apaixona por um sistema operacional interativo...poderia resumir o filme nessa frase, embora eu ache que não faria justiça a grandeza, originalidade e profundidade da história. Her nos conta de forma sutil e arrebatadora como lidamos com a tecnologia e ao mesmo tempo os desejos de conexão do ser humano, tão atemporais e que sempre existiram na humanidade, desejos estes que possuem seus benefícios e consequências. Seria mais uma entediante e clichê história de amor impossível, se não fosse pelo fato de há algo a mais aqui, há uma força poderosa e vivificante que mostra os relacionamentos a dois sob um prisma ao mesmo tempo universal e único; mostra a complexidade de se lidar com relações reais e humanas, mas também mostra uma nova e libertadora visão sobre o amor e o desejo, não se trata aqui da tão conhecida incompatibilidade humano/máquina, se trata da interação entre dois corações, duas mentes, duas vidas, uma voz incorpórea programada como sistema operacional, mas que sente, deseja, e ao fazer isso torna-se um "eu", um sujeito. A sutil crítica as relações virtuais e a tecnologia surge aqui mostrando a incapacidade para se relacionar com pessoas reais mas também sugere que qualquer forma de busca por contato, por alguém que te complete é válida, e aí está justamente a beleza e contradição de tudo: um relacionamento "artificial" pode tornar-se mais real e verdadeiro do que um relacionamento normal, humano...
Realmente Spyke Jonze nos faz ver o mundo de um jeito diferente, com um romance mais profundo e verdadeiro do que a maioria das histórias de amor que conhecemos.




RESENHA DO FILME THE ROYAL TENENBAUMS (2001)

Estupefação e maravilhamento...essas duas palavras poderiam resumir muito bem esse que é um daqueles filmes que podem ser chamados de obra-prima, patrimônio cultural artístico da humanidade. O enredo gira em torno da família Tenenbaum, os três filhos do patriarca Royal Tenenbaum são gênios, cada um em algo, até que os casal separa-se e após 17 anos a família reencontra-se para recuperar o contato e para conhecerem-se melhor e ajustar contas com o passado. Aqui Wes Anderson mostra e consagra-se como um dos mais peculiares e inovadores cineastas de todos os tempos, a tragicomédia da família Tenenbaum conta uma fábula familiar, desde seu tom de narrativa infantil, com um narrador nos contando a história, passando por uma comédia deliciosa e aconchegante de se ver até um intenso e cotidiano drama familiar. Aqui a comédia caseira não limita-se aos modismos nem as suavidades do gênero, mostrando que as relações pessoais nem sempre encaixam-se bem, as situações e os desfechos não são redondos e exatos, na verdade são móveis, desconcertantes. O aspecto visual de cenários e figurino são impecáveis, aparecendo não por acaso, nem gratuitamente, mas para servir de base para o andamento da história, ajudando a contar a história. Uma sessão de quase duas horas de alumbramento artístico, humor e diversão.